Na minha casa somos 3, aos sábados 5,
durante a semana 2 e no silêncio 1.
Não gosto de contas difíceis nem de
números exatos.
Gosto dos números que aparecem no meu
rádio, de marcar o 42 no comando
cinzento da sala, do número desconhecido
de estrelas na minha parede e das contas
de somar.
Nasci no ano 2000, o que facilita sempre a
conta. Tenho agora 9 anos e somo mais um.
Recomeço a contar.
Na minha casa somos 4, aos sábados 6,
durante a semana 4 e no silêncio 1.
Faço agora contas que não entendo e subtraio
pensamentos que me fazem chorar quando sou
uma. Aprendi a mudar fraldas e a dividir-me
em partes que facilitam a passagem por uma
casa de pessoas e contas difíceis.
Plantei uma laranjeira.
O meu tio diz que as laranjas simplificam as
contas. Coloquei a semente e a árvore cresceu.
Quando apareceram as primeiras laranjas voltei
a contar.
Na minha casa somos 5, aos sábados 7,
durante a semana 5 e no silêncio 1.
Agora somo laranjas e leio sobre elas.
“As laranjeiras, apesar de sempre-verdes, são
caracterizadas por uma tendência de renovar a
sua folhagem constantemente. Estas florescem
na primavera e dão-se bem em zonas com grandes
variações climatéricas mas não demasiado frias”.
Mas a minha laranjeira é diferente. A minha
laranjeira tem sempre fruto, aguenta qualquer clima
e cresceu rápido demais para as poucas contas
que sei fazer.
Agora gosto das contas de subtrair e comecei a
contar os dias até ir embora.
Na minha casa agora são 4, aos sábados 6 e
durante a semana 4.
No silêncio sou uma
e a minha laranjeira continua a crescer sem mim.
Agora faço contas sem as minhas laranjas e ela
faz contas sem mim.
Não tenho laranjas mas finalmente aprendi a
contar e assim, recomeço.